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Fontes de energias renováveis serão tendência de investimento pós pandemia

Os impactos pós pandemia do coronavírus já têm sido motivo de discussões no setor elétrico que, assim como em outras áreas, está enfrentando desafios e vai precisar de mais investimentos. Durante um seminário online que discutiu perspectivas para o setor elétrico no pós-pandemia da Covid-19, Carlos Quintella, diretor da Fundação Getúlio Vargas Energias, disse que houve uma queda de 14% no consumo de energia. Já no Mercado Livre, que é o ambiente em que o consumidor negocia o preço da sua energia diretamente com os agentes geradores e comercializadores, a redução foi ainda maior, 18%. “Essa redução foi impulsionada pelo baixo consumo principalmente no setor industrial, shoppings e setor de serviço”, destacou. O diretor da FGV Energias disse ainda que a economia baixou também em 13% no Ambiente de Contratação Regulada (ACR), mais conhecido como mercado cativo. A queda é menor por causa da continuidade do consumo na classe residencial.

Para os consumidores residenciais a energia elétrica está mais cara, e o momento pândemico tem dificultado o pagamento em dia desse serviço. André Pepitone, diretor- geral da Agência Nacional de Energia Elétrica (Aneel) diz que a agência está articulando ações para não prejudicar os clientes. “Temos ciência que o consumidor de energia elétrica está sem condições de absorver novos aumentos na conta de energia. Essa crise não tem origem no setor elétrico, mas nos afeta em grande medida. Estamos ouvindo todo o segmento para que possamos tomar a melhor decisão”, frisou. O aumento da inadimplência tem sido um dos desafios para a Aneel, que precisa movimentar o fluxo de caixa e o capital de giro do setor elétrico brasileiro. O diretor destaca ainda que o preço de Liquidação das Diferenças (PLD), está num patamar mínimo, em pouco mais de R$ 40,00 reais, o que tem reflexos no segmento de distribuição de energia. “Os contratos estão sendo liquidados com preços inferiores aos dos contratos.  Temos um risco de a insolvência da distribuição afetar o segmento de geração e transmissão, causando inadimplência em toda a cadeia”, pontou o diretor da Aneel.

A Aneel tem anunciado medidas para investimento no setor energético durante e pós pandemia, para minimizar os impactos na tarifa dos consumidores. “O que desejávamos primeiro era um aporte do Tesouro Nacional de maneira mais efetiva, mas nós conseguimos apenas R$900 milhões de reais para o baixa renda, e já tivemos uma sinalização que não há mais como o Tesouro aportar recursos no setor elétrico. Nós não vamos realizar os leilões de energia existentes, considerando o mercado que reduziu bastante”, frisou.

As distribuidoras de energia são garantidoras da arrecadação de toda a cadeia do setor elétrico, por isso a Aneel tem concentrado esforços para a flexibilização de parâmetros regulatórios, avaliação de políticas públicas e de repasse de recursos para a mitigação da inadimplência e da redução de mercado. Para o pós-crise o diretor da Aneel disse que a primeira agenda é reconhecer o esforço que o Mercado Livre tem feito na negociação de contratos, e abertura gradual do mercado. “Temos que avançar para que o consumidor de baixa tensão possa ir para o ambiente livre”, disse.

A Aneel destaca também o crescimento do Mercado Livre. “De 2016 a 2019, 18.107 consumidores migraram. Só em 2019 houve um aumento no pedido de outorgas, foi o “boom” com 9.815 megawatts em grande medida usinas eólicas e usinas solares. Até então, somente as eólicas comandavam o Mercado Livre e agora também começam outorgas para usinas solares” pontuou Pepitone. A ampliação sustentável micro/minigeração (geração distribuída) com a energia solar passa a ser uma realidade com 298 mil consumidores no Brasil recebendo crédito de geração distribuída com potência instalada de 2.800 megawatts.

De acordo com o consultor do Fórum de Energias Renováveis (RR), Ricardo Lima, haverá uma sobre oferta de energia até que a economia se recupere, especialmente no Sistema Interligado Nacional. Isso pode durar de dois a três anos. “Os investimentos em expansão do sistema devem atrasar, mas poderá haver uma consolidação com fusões e aquisições de empresas de geração, especialmente as de fontes renováveis (solar e eólica). Estas, que estavam apostando no Mercado Livre, que estará sobre ofertado com preços baixos, terão dificuldades para honrar os financiamentos, se não estiverem ligadas a grupos extremamente fortes” destacou.

Pós pandemia ele vê a tendência no aumento pela procura das energias renováveis. “Com essa crise, o consumidor percebeu a importância da energia. E as soluções que o Governo está encontrando para socorrer o setor elétrico apontam para que o consumidor pague mais, assumindo os custos desse socorro às empresas do setor. Isso levará a um maior crescimento, ou procura, pelas soluções de geração própria de energia pelo consumidor, ou da geração distribuída”, frisou. Para Ricardo, deverá aumentar também o investimento em automação das redes e da operação do sistema, seja de transmissão, seja de distribuição de energia.

 

Fonte: Aneel

Foto: Aneel

Por Thamy Dinelli