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Projeto quer levar energia solar para quase um milhão de pessoas na Amazônia até 2023

Estima-se que quase 1 milhão de pessoas ainda não têm acesso à energia elétrica no Brasil, segundo o Instituto de Energia e Meio Ambiente (IEMA). Praticamente toda essa população vive em locais de difícil acesso dentro da Amazônia Legal, que abrange a região norte do país mais os estados de Mato Grosso e Maranhão.

Levar eletricidade para comunidades ribeirinhas e indígenas é uma tarefa complexa, principalmente por causa da dificuldade de conduzir redes de energia de centros urbanos para a mata fechada. Porém, essa meta pode ser batida até 2023 com ajuda da energia solar.

É isso que garante o Projeto de Lei (PL) nº 4248/2020, de autoria do deputado federal Airton Faleiro (PT/PA), que quer disponibilizar recursos via Conta de Desenvolvimento Energético (CDE) para empresas irem até essas localidades instalar sistemas de energia fotovoltaicos isolados, que dependem somente das placas solares para funcionar.

O PL atualmente aguarda parecer da Comissão de Integração Nacional, Desenvolvimento Regional e da Amazônia (CINDRA), da Câmara de Deputados, e já provou que é viável em experiências feitas por Organizações Não Governamentais (ONGs).

Esse é o caso do projeto “Xingu Solar”, realizado pelo Instituto Socioambiental (ISA), que hoje beneficia 7,6 mil pessoas em 120 aldeias da Terra Indígena do Xingu (TIX), no estado do Mato Grosso. O engenheiro Marcelo Martins explica que a iniciativa iniciou como um experimento, em 2013, como forma de tornar comunidades menos dependentes de combustíveis para abastecer geradores de energia.

“Os geradores eram muito velhos e precários, viviam dando defeito. A rede toda era com fios inadequados, o que coloca a vida das pessoas em risco. Com essa orientação, entramos em diálogo com as comunidades para pensarmos em uma alternativa que fosse durável, e foi aí que começamos a instalar placas solares”, contou.

A ideia agradou as comunidades. Segundo levantamento da IEMA feito em 2019, 96% dos contemplados pela energia fotovoltaica na TIX preferem essa forma de abastecimento, ao invés de gerador a óleo diesel. Os motivos são vários: a energia solar não emite ruídos característicos de motores, são de manutenção mais fácil, contam com maior durabilidade, não são dependentes de partes móveis e, claro, dispensam gastos com gasolina ou diesel.

Marcelo salienta que energia elétrica é fundamental em comunidades indígenas, pois agiliza atendimentos de saúde, melhora a educação em escolas, e garante maior segurança por viabilizar comunicação com autoridades caso esses lugares sejam invadidos por garimpeiros e madeireiros ilegais.

“As mulheres, por exemplo, prezam por um ralador de mandioca para ganhar tempo em seu dia. Professores querem computador para fazer pesquisa e ensinar melhor seus alunos. Um artesão ou alguém construindo uma casa quer uma ferramenta elétrica, pois adianta muito o trabalho dele. […] Na saúde, faz muita diferença as pessoas não precisarem se deslocar da comunidade para ter acesso a um inalador, por exemplo. Também é importante para conservação de vacina, acesso à água, comunicação”, explicou.

Outra iniciativa bem-sucedida vem de ações do projeto Saúde e Alegria, que instalou placas solares nas comunidades Carão e Aldeia da Arapiranga, na região oeste do Pará, e capacitou comunitários para terem conhecimento de como instalar e manusear sistemas fotovoltaicos.

O coordenador geral do Saúde e Alegria, Caetano Scanavinno, aponta que a energia solar é uma forma de garantir desenvolvimento econômico de comunidades sem que haja perda de cultura ou tradições ligadas à preservação do meio ambiente.

“Sistema de abastecimento de água, rádios comunitárias, ecoturismo, aprimoramento de escolas, melhora de vendas de produtos feitos pelos indígenas. Energia é fundamental tanto para o uso social quanto para a questão econômica”, frisou.

Mas para que haja sucesso na implementação da energia solar, um fator importante a ser considerado é a divulgação. Isso é destacado pela Giorgiana Freitas Pinheiro, representante da empresa Equatorial, distribuidora de energia no Pará.

A empresa faz parte do programa Mais Luz para a Amazônia, iniciado pelo Ministério de Minas e Energia em 2020. No Pará, o objetivo é levar eletricidade solar a 11 mil residências ribeirinhas até 2022.

Giorgiana conta que como a energia solar é inédita para os moradores, é preciso que as populações ribeirinhas e indígenas sejam conscientizadas sobre o que é energia solar e quais suas propriedades. Assim, será possível evitar desinformações que possam criar resistência de famílias à tecnologia.

“Parte das famílias ainda não aceita a solução [energia solar] porque existe uma visão de que a energia boa é aquela que vem da rede. Então não é que haja um pensamento contrário à energia renovável, o que há é a falta de informação sobre o que ela é e como funciona. Por isso, fazemos trabalhos e ações sociais para estreitar relacionamentos com as comunidades, muitas vezes até com parcerias de prefeituras”, contou.

Por Pedro Barbosa

Foto: Jussara Batista/Projeto Saúde e Alegria