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Movimento Puraké é contra a construção da UHE do Bem Querer

Nas últimas semanas o Fórum de Energias Renováveis de Roraima vem promovendo um amplo debate a respeito da possível construção da Usina Hidrelétrica do Bem Querer, no rio Branco.

A intenção do Fórum e mostrar todos os prós e contras do projeto, abordando temas como produção de energia, geração de empregos e que tipo de impactos ambientais o projeto pode gerar em Roraima.

O Movimento Puraké é uma organização criada em 2012 por um grupo de pessoas da sociedade civil e especialistas ligados à academia, bem como representantes de comunidades ribeirinhas e indígenas.

Bruno de Campos Souza, biólogo, mestre em recursos naturais é um dos coordenadores do Movimento Puraké. O grupo se mostra totalmente contrário ao empreendimento do Bem Querer, e afirma que os prejuízos causados pela construção serão bem maiores que os benefícios.

“O nosso objetivo é contribuir com essa discussão do futuro energético do Estado de Roraima. O surgimento do Movimento ocorreu em 2012, quando foi convocada uma reunião pela Empresa de Pesquisas Energéticas, ligada ao Ministério de Minas e Energia. A EPE convidou uma série de órgãos ambientais das esferas estadual e federal para que fosse apresentado o início do licenciamento da usina hidrelétrica e nesse momento todos foram pegos de surpresa, pois ninguém sabia do andamento do licenciamento, nem sabia do projeto e nem o conhecia profundamente”, lembrou;

Bruno explica que após o término dessa reunião surgiu a necessidade de reunir um grupo de pessoas para criar um movimento que se chamou Puraké, porque tem esse mote de ser um choque de informação. “Então a ideia era realizar eventos e parcerias que pudessem trazer o tema da usina hidrelétrica do Bem Querer, além de apresentar alternativas. E aí então surgiram diversos eventos com parceiros como a Diocese de Roraima, a Universidade Federal de Roraima, o Instituto Nacional de Pesquisas da Amazônia, Fiocruz, Ministério Público, Federação das Colônias dos Pescadores e entidades relacionadas ao tema”, disse o coordenador.

Segundo Bruno, a ideia do movimento é conhecer profundamente o projeto, realizar estudos comparativos com outros projetos hidrelétricos na Amazônia e depois poder divulgar para a sociedade o que irá acontecer se essa hidrelétrica for construída e também pensar em alternativas.

Ele explica que o Movimento Puraké se debruçou nos estudos, fez levantamentos comparativos com outros projetos hidrelétricos e identificou que Bem Querer é o pior projeto, em relação à eficiência energética do Século 21.

“A gente afirma isso com base nos dados da própria Empresa de Pesquisa Energética, do Ministério de Minas e Energia. Como se define a eficiência energética de um projeto hidrelétrico: é em função da área alagada, relacionada com a energia gerada. Quando você tem uma grande área inundada como é o caso desse projeto, que são 560 km quadrados, e uma geração de energia muito pequena, que na época da seca, por exemplo, vai atender apenas a metade da demanda energética do Estado, a gente entende que esse projeto não é interessante do ponto de vista da eficiência energética. Ele não atende a demanda do Estado durante o ano todo, e durante uma parte do ano ele vai apenas atender a metade da demanda. Então isso faz com que indústrias e outros segmentos da economia não o entendam como uma fonte segura que possa garantir o desenvolvimento do Estado”, esclareceu.

Bruno afirma que a usina também vai ocasionar uma série de problemas socioambientais irremediáveis e muito semelhantes ao que vem acontecendo no entorno, por exemplo, das hidrelétricas de Belo Monte no Pará das hidrelétricas de Santo Antônio e Jirau em Rondônia. “Então aqui deve acontecer a mesma coisa e a gente afirma, em razão desses problemas socioambientais, que não é possível conciliar a construção da usina hidrelétrica do Bem Querer com a conservação do Rio Branco e sua bacia hidrográfica”.

O biólogo afirma, também, que a bacia do rio Branco drena mais de 90% da área de todo Estado e quando tem uma hidrelétrica no curso médio desse rio o que está acima, cerca de 150 km, passando pela cidade de Boa Vista, vai virar um reservatório, um lago de água parada ou quase parada.

“Então todos os processos ecológicos de um antigo rio que tinha correnteza, que tinha corredeira, que tinha praias, que tinha uma série de drenagens menores desaguando nesse rio, serão afetados. Então a gente não vai ter mais esse tipo de curso hídrico funcionando. Vai ser um reservatório em um lago”, definiu o coordenador do Movimento.

Para o Movimento Puraké, os impactos em Roraima serão semelhantes ao que ocorreu em Rondônia, Santo Antônio e Jirau e também na hidrelétrica de Belo Monte. Os impactos são muito semelhantes. “Por exemplo, essa hidrelétrica de Belo Monte tem um reservatório quase que do mesmo tamanho desse projeto da hidrelétrica do Bem Querer. Só que a hidrelétrica do Bem Querer vai gerar 20 vezes menos energia. Então se imagina que se pelo menos essa hidrelétrica fosse eficiente do ponto de vista da energia, as outras questões podiam ser reconsiderados”.

Bruno garante que muito importante que se comece a pensar em alternativas, uma vez que o Estado oferece alternativas. Ele lembra que Roraima comumente é chamado de a Terra do Sol e dos ventos, e o mapa eólico brasileiro, divulgado pela EPE, mostra que Roraima demonstra que existe viabilidade na geração solar e eólica.

“Roraima também é a última fronteira agrícola. A gente tem percebido o quanto essa atividade tem crescido. Então, os restos, a sobra do que é produzido depois da colheita, podem ser utilizados como uma geração de energia, através da biomassa. Consorciadas essas três possibilidades, a gente teria pelo menos três hidrelétricas do Bem Querer. Conservando o Rio Branco a gente mantém as atividades de pesca, mantemos a atividade do turismo, relacionado a observação de aves, a observação da natureza aos passeios, etc.. A gente garante o lazer das pessoas com as praias e banhos, que é como as pessoas de fazer na época do verão”.

Bruno finaliza afirmando que se essa hidrelétrica for construída, durante 12 meses ela vai ficar com o nível quase como na sua cheia total e acaba com uma coisa importantíssima no rio que se chama pulso de inundação, que é o que o rio faz quando ele seca e quando ele enche.

Com a hidrelétrica, continua Bruno, esse pulso de inundação ficará regulado por um homem que aperta um botão e decide a hora que a comporta vai ser fechada ou aberta, para que a água flua.

“Então a gente precisa identificar uma série de informações Dizem que a hidrelétrica é a fio d’água e que não vai causar Impacto algum. A água vem e passa pela turbina e vai embora como se nada tivesse acontecido. De Boa Vista até Caracaraí o desnível é de 15 metros. Essa principal barragem que vai ser construída nas corredeiras do Bem Querer vai criar um reservatório de 150 km de extensão em uma área de 560 km quadrados. Isso é muito grave e vai trazer impactos sérios às comunidades indígenas, vai afetar também unidades de conservação mesmo que indiretamente e vai trazer problemas abaixo dessa barragem”.

A proposta do Fórum de colocar esse tema em debate foi elogiada por Bruno. Ele afirma que é necessário ouvir a sociedade para buscar alternativas. “O Fórum abre uma grande oportunidade, pois é bastante eclético no sentido de ter a parceria de grupos diferenciados de pessoas, de trazer para o debate não são os ambientalistas, os indigenistas ou pessoas que normalmente se preocupam com o meio ambiente,  mas trazer empresários do agronegócio, indústrias, investidores, pessoas que estejam preocupadas com o futuro econômico do Estado, porque tratra-se de um projeto que vai acabar destruindo um rio, o principal do Estado de Roraima e que não vai atender as demandas. Então, quando as pessoas realmente conhecerem o projeto, elas poderão se manifestar a ter suas opiniões”, concluiu Bruno.

Confira o vídeo produzido pelo Movimento Puraké

Por Nei Costa