A coordenadora do Estudo de Impacto Ambiental da Empresa de Pesquisa Energética (EPE), Natasha Sodré, afirmou que os Estudos de Impacto Ambiental da Usina Hidrelétrica do Bem Querer devem ser concluídos em 2023.
Ela explicou que o processo está na etapa de estudo, que tem como objetivo verificar se o empreendimento possui viabilidade técnica econômica e ambiental.
A coordenadora esclarece que a EPE realizou estudos e levantamentos que vão validar a localização e as técnicas construtivas propostas pelos engenheiros. “Serão, também, aprofundadas as avaliações para definição do custo do projeto, os impactos e seus benefícios e quem é que vai definir se esse projeto é ou não viável do ponto de vista ambiental vai ser o órgão licenciador, que nesse caso é o Ibama.
Natasha afirma que o Ibama solicita a elaboração de um estudo específico, chamado de estudo de impacto ambiental que é o estudo realizado para identificar os impactos causados pela construção e operação da hidrelétrica e também para apresentar as medidas necessárias para você evitar, mitigar ou compensar esses impactos. “E foi justamente o para o desenvolvimento desse estudo de impacto ambiental que a EPE, em 2018, contratou o consórcio formado pelas empresas Walm Engenharia e Tecnologia Ambiental e Biota Projetos e Consultoria Ambiental. Esse consórcio é composto por diferentes profissionais como engenheiros, biólogos, sociólogos, antropólogos e geógrafos. Esses profissionais vão desenvolver esses estudos e buscar responder as perguntas feitas pelo Ibama para que depois de tudo pronto o órgão possa identificar se existe ou não viabilidade para hidrelétrica”, disse.
Natasha Sodré lembra que o consórcio vem desenvolvendo uma série de pesquisas para identificação de informações existentes na região para coleta de dados diretamente em campo, com a realização de entrevistas e oficinas para identificação dos aspectos físicos e naturais, como os tipos de solo recursos hídricos plantas e animais, além de questões sociais econômicas e culturais que são relevantes para região do estudo onde se pretende implantar hidrelétrica.
“Essas informações serão utilizadas para a construção do diagnóstico socioambiental e esse diagnóstico, junto com as características do empreendimento e o conhecimento prévio dos especialistas, vão servir de base para a etapa da avaliação de impacto ambiental, proposição de programas socioambientais e entender como que funciona essa dinâmica local, incluindo fragilidades e potencialidades da região”, garante a coordenadora.
Ela explica que é muito importante compreender os impactos e também as ameaças e oportunidades que poderiam estar associadas à chegada do empreendimento. Assim, desde o início dos estudos foi estabelecido um contato direto com a população e esse contato foi feito não só através das entrevistas realizadas e levantamento de campo, mas também através do plano de comunicação e relacionamento com a sociedade.
“Por meio desse plano foi instalado o escritório local em Boa Vista para atendimento e esclarecimento de dúvidas e foi desenvolvido um site na internet para disponibilizar informações sobre o projeto e o andamento dos estudos de tudo que está sendo realizado em termos de reuniões informativas e oficinas com representantes da população local. Tudo é divulgado por meio desse site e nesse ponto eu gostaria de destacar a importância da participação da população no processo durante as oficinas de diagnóstico participativo que estão sendo realizadas desde o ano 2019 nos seis municípios localizados na área de influência do projeto”, esclarece Natasha.
A coordenadora da EPE lembra que já participaram representantes do poder público, de associações, de universidades e isso possibilita uma troca de conhecimento muito maior sobre a região que agrega ao trabalho técnico o conhecimento e a opinião da população local.
O processo de licenciamento ambiental, que foi iniciado em 2018, está na fase de conclusão dos levantamentos de campo e esses foram planejados para durar 12 meses, mas devido a pandemia causada pelo Covid-19, algumas atividades tiveram de ser suspensas para atendimento das recomendações do Ministério da Saúde, dos Estados e Municípios, visando o combate a pandemia.
“Então, a previsão atual é de que os levantamentos sejam concluídos apenas do 2º semestre de 2021 e ocorre porque alguns estudos precisam que os levantamentos sejam realizados em períodos específicos do ciclo hidrológico, como cheia, vazante, enchente e seca do rio. Concluída essa fase de levantamento de campo em 2021, são estimados outros 12 meses para consolidação e análise de todos os dados, elaboração da versão final do estudo de impacto ambiental e isso está previsto para ocorrer no final de 2022 e início de 2023”, destaca.
Natasha Sodré ressalta que outro estudo tem que ser realizado no licenciamento ambiental da usina, que é o do componente indígena, tendo em vista a especificidade do tema. Ela afirma que a EPE contratou outra empresa para execução desse estudo, que é a MRS Estudos Ambientais.
A coordenadora afirma que ainda não houve oportunidade para apresentação do plano de trabalho para as comunidades indígenas, pois o agendamento dessas reuniões deve ser feito pela Funai e somente após a realização das reuniões e mediante a obtenção da autorização dos indígenas para entrada nas suas terras é que os levantamentos de campo poderão ser iniciados.
Outro aspecto lembrado pela coordenadora diz respeito ao Sistema Interligado Nacional, por meio da linha de transmissão Manaus/Boa Vista. Natasha esclarece que esses dois projetos apresentam sinergia e contribuem para aumentar a confiabilidade e segurança no atendimento à demanda de energia em Roraima.
“Isso ocorre porque a usina será uma fonte de energia firme, na ponta de um sistema radial de transmissão final da linha Manaus/Boa Vista. Além disso, ainda que o fornecimento de energia pela União seja interrompido, ao UHE do Bem Querer terá a capacidade de suprir a demanda de energia do Estado de maneira integral na maior parte do ano e parcial no período seco, por se tratar de uma fonte renovável de energia”, explicou
Natasha diz que Bem Querer vai emitir menos gases de efeito estufa e terá um custo de produção de energia mais barato que as demais fontes de energia firme, como as usinas térmicas a óleo, por exemplo.
A coordenadora da EPE ressalta que os estudos indicam que a Usina Hidrelétrica do Bem Querer terá uma potência instalada de 650 MW o que seria suficiente para abastecer aproximadamente 1.400.000 residências. Mostram que o empreendimento terá aproximadamente três milhões de megawatts/hora, isso porque essa geração varia de acordo com o período do ano.
Outro fator mostrado pela coordenadora é que a bacia do Rio Branco está localizada na margem esquerda do Rio Amazonas e a usina vai atingir sua capacidade máxima de produção de energia nos períodos em que as outras usinas hidrelétricas em operação no Brasil vão estar enfrentando período de seca.
Natasha explica que a UHE do Bem Querer traz benefícios não só para Roraima, como também para o sistema elétrico nacional, para o meio ambiente e também para a sociedade, porque ela vai reduzir a necessidade de acionamento de usinas térmicas para atendimento da demanda de energia nesses períodos mais secos, o que por sua vez vai implicar em menores custos de geração de energia e também menos emissões de gases de efeito estufa.
Outra informação considerada importante por Natasha é que a Usina Hidrelétrica do Bem Querer está planejada para operar a fio da água, que significa que o reservatório não tem capacidade de guardar a água de um período de cheia para gerar energia em um período de seca, como ocorre nos reservatórios de acumulação.
“Assim, a água que chegar ao reservatório vai passar pelas turbinas e vai continuar seu curso rio abaixo. Dessa forma, a capacidade de geração de energia desse empreendimento vai ser proporcional à quantidade de água disponível no rio, ou seja, vai variar ao longo do ano, sendo maior no período de cheia e menor no período de seca”, esclarece.
Por Nei Costa
Foto – Divulgação