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Combinar geração de eletricidade com o acesso à internet pode garantir mais investimentos e desenvolvimento de projetos na Amazônia

Energia para e na Amazônia: como universalizar, descarbonizar e promover desenvolvimento local. Esse foi um dos importantes temas discutidos no painel de debates promovido pelo Instituto Clima e Sociedade (ICS) durante encontro com parceiros do Portfólio de Energia, dentre eles o Fórum de Energias Renováveis de Roraima.

Roberto Kishinami, coordenador do Portfólio de Energia do ICS, explicou que o objetivo do encontro foi permitir a troca entre diferentes atores sociais que compõem o portfólio. Neste ano uma mudança importante foi o foco do portfólio em regiões do país, sendo elas: norte, nordeste e sul. Em cada uma delas o tema central abordado foi a transição energética que ocorre no Brasil, e que é parte de um movimento que ocorre no mundo todo.

“No caso da Amazônia, em que o Fórum de Energias Renováveis de Roraima atuou com destaque no encontro, o tema fundamental é a descarbonização da matriz elétrica local. Então, essa transição significa na verdade substituir as fontes poluentes que estão presentes em muitos municípios da região, e que estão relacionados a uma dificuldade de acesso de várias comunidades à energia elétrica”, salientou Kishinami.

O ICS está desenvolvendo também o projeto “Mudando o modelo dominante de fornecimento de energia elétrica às comunidades da região Amazônica: da escuridão às renováveis”. 

“O objetivo é sair de um quadro como o atual, em que a energia elétrica quando é fornecida tem instabilidade e baixa qualidade, e  aproveitar as tecnologias que já estão disponíveis no mercado para se ter acesso a uma energia que é segura, barata, e que pode ser combinada com a conexão digital, acesso à internet”, destacou.

De acordo com Kishinami, nas comunidades pesquisadas foi observado que um dos primeiros usos da energia elétrica, após atender as necessidades prioritárias, é a conexão com a internet. Um uso da eletricidade mais avançado e que ainda não é coberto pelas políticas públicas.

Kishinami destaca também que a  transição energética está ocorrendo no mundo, e que o avanço da tecnologia tem ajudado nesse processo.

“Hoje nós temos tecnologia de geração de eletricidade que são moduláveis, o que permite desenhar sistemas que são distribuídos. Então, ao invés de grandes centrais elétricas, como as termelétricas e hidrelétricas, o que nós temos hoje são tecnologias que permitem gerar eletricidade onde você está. Seja com painel solar, painel solar combinado com bateria, sejam sistemas eólicos ou sistemas que usam a biomassa”.

O coordenador do Portfólio de Energia do ICS, destaca que esses sistemas distribuídos hoje são mais baratos que os sistemas tradicionais, e diz que a primeira motivação para ir em direção às fontes renováveis é a economia. A segunda, é que os sistemas que são renováveis e distribuídos são mais confiáveis e eles funcionam com maior regularidade ao longo do ano. Com isso se tem uma energia de melhor qualidade pra quem consome essa eletricidade.

A ideia da transição é também digitalizar, significa combinar a geração de eletricidade com o acesso à internet, o que melhora as condições para o desenvolvimento local. 

“Nós temos que pressionar para que as políticas públicas sobre energia elétrica tenham cronogramas que sejam mais adequados do ponto de vista da necessidade das populações. O cronograma que está estabelecido para o Mais Luz para a Amazônia é insuficiente para cobrir um número significativo de comunidades, é preciso acelerar isso.  Recursos existem, tanto no orçamento federal,  como também na própria economia, não podemos esquecer que esse sistema que hoje atende mal as comunidades remotas custam na ordem de 8 bilhões de reais por ano na conta de todos os consumidores brasileiros, só para pagar pelo diesel que é queimado”

Kishinami, destaca ainda que  substituir esses motores a diesel por sistemas que são renováveis, modernos, e que ainda vão estar casados com a digitalização, terá um custo menor. 

“Essa diferença entre os custos, é dinheiro dentro do sistema que pode receber arranjos, como por exemplo, financiamentos para instalação e pagamento com o que é gasto com o diesel. São coisas que já estão presentes na economia atual e que podem ser usadas para fazer essa aceleração do acesso das pessoas à energia segura”.

O ICS olha  a sociedade civil como um fator de mudança para incentivar a transição energética.

“Uma prova disso é o Fórum de Energias Renováveis que atua em Roraima e que tem tido muito sucesso. A Amazônia inteira tem outras organizações que trabalham na mesma direção, e que estão reunidas num movimento coletivo que se chama Energia e Comunidades. Envolve tanto organizações da sociedade civil, pesquisadores de universidades, e parte do setor privado que estão interessadas e que contribuem para essa transição. É esse movimento que nós vemos como um fator de progresso e mudança para uma energia digitalizada e descarbonizada”.

Mudar é preciso, e as grandes potências mundiais voltam os olhos para esse tema. No início deste ano a Cúpula Mundial de Líderes pelo Clima discutiu a preocupação com a mudança climática mundial e as principais atitudes que devem ser tomadas nos próximos anos para melhorar a qualidade vida, dentre elas a transição energética a fim de promover a diminuição de gases do efeito estufa por parte dos países.

“Os grandes fundos de investimento que movimentam trilhões de dólares pelo mundo inteiro já definiram que não é na indústria de petróleo e gás que eles vão colocar dinheiro. Estão investindo em fontes renováveis, em projetos que signifiquem descarbonização, digitalização, descentralização e democratização”, destaca Kishinami, que falou também sobre o cenário local.

“Na Amazônia, o que eu vejo, é que falta construir esse grande projeto em cima desses pressupostos. Serve tanto para as comunidades remotas, como também para os grandes centros, e cidades como Manaus (AM) e Boa Vista (RR) onde existem grandes oportunidades através das renováveis. Se você constrói um programa desses para a Amazônia, esse capital que está pelo mundo encontrará interesse em investir nesse projeto com efeitos multiplicadores. Vai provocar um fluxo de investimentos para a Amazônia que pode ser de natureza industrial, de novos serviços, construção de grandes centros de tecnologia, e aproveitar  o potencial  da bioeconomia da região”.

Roberto Kishinami também destaca as principais mudanças a serem feitas para atender as demandas. “Precisamos começar pelo básico que é a infraestrutura, a energia e a digitalização. Sem essas coisas não existe indústria moderna. Essa é a base, e o primeiro passo em direção a esse programa de desenvolvimento para a Amazônia”, finalizou.

 

Por Thamy Dinelli (Assessoria de Comunicação Fórum de Energias Renováveis)