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Estudo de Impacto Ambiental da UHE do Bem Querer deve ser concluído em 2023

Nesta edição, conversamos com a Natasha Sodré, coordenadora do Estudo de Impacto Ambiental da Empresa de Pesquisa Energética, responsável pelo Projeto de construção da Usina Hidrelétrica do Bem Querer.  Ela deu detalhes do estudo iniciado em 2018 com objetivo de verificar se o empreendimento tem viabilidade técnica,econômica e ambiental. Ouça a entrevista:

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Deputado e senador afirmam que Bem Querer é fundamental para o desenvolvimento de Roraima

Dentro do debate promovido pelo Fórum de Energias Renováveis de Roraima, a respeito da viabilidade da construção da Usina Hidrelétrica do Bem Querer, no rio Branco em Caracaraí, o senador Mecias de Jesus e o deputado federal Jhonatan de Jesus emitiram suas opiniões sobre o empreendimento.

O senador Mecias de Jesus afirmou que são projetos como esses que Roraima, a Amazônia e o Brasil precisam. Para ele, a energia é vital para qualquer processo de desenvolvimento e deva ser abundante, de qualidade e por um preço que o consumidor possa pagar.

Sobre os eventuais danos que podem ser causados ao meio ambiente, Mecias disse que acredita que todos os possíveis danos poderão ser reparados, compensados e recompensados. Ele afirma que a fonte de energia de hidrelétricas ainda é a mais viável economicamente e ambientalmente do mundo.

“O Brasil ainda tem muito potencial e apesar da pressão e do lobby daqueles que não querem o seu desenvolvimento, acredito que esses projetos são perfeitamente viáveis”, destacou.

O senador acredita que os impactos ambientais que esses projetos possam gerar estão sendo medidos e ele crê que agridem menos o meio ambiente que as termelétricas e até mesmo outras formas de geração de energia. “O mundo hoje conta com modernas tecnologias capazes de minimizar ao máximo os danos ambientais decorrentes de projetos dessa natureza”, lembrou.

Mecias de Jesus disse que a falta de energia também gera impacto, gera pobreza, miséria, impede o desenvolvimento de um estado e de uma nação e isso também deve ser levado em conta. “Mas é claro que esses impactos nos causam preocupação, embora acreditemos na ciência e nos estudos que são feitos e que devem comprovar a viabilidade do projeto”.

Para o senador, a construção de uma hidrelétrica e a riqueza que ela vai gerar é medida em décadas e ele tem a convicção de que esses estudos também estarão bem detalhados no projeto de viabilidade do empreendimento. Ele lembra que a história conta que a energia em quantidade e qualidade é fator primordial para desenvolver uma nação e por isso todos estão cientes de que os benefícios serão maiores e os danos mínimos.

Mecias de Jesus afirmou que está à disposição no Congresso para trabalhar em prol de todos os projetos que levem alternativas para ajudar a desenvolver o Estado. “Quero dizer, também, que o problema com geração e distribuição de energia é um entrave que impede o desenvolvimento de Roraima e que já era para ter sido resolvido há pelos 32 anos, mas que agora, com esses projetos, a esperança seja renovada”.

Já o deputado federal Jhonatan de Jesus disse que está contente com a discussão sobre a retomada desse projeto e adiantou que os possíveis danos ambientais serão estudados corretamente. “Acredito ser viável tanto do ponto de vista econômico como ambiental”.

Para Jhonatan, o Estado e a iniciativa privada têm que fazer o possível para que esses projetos continuem dando certo até que não existam mais usinas termelétricas, que são poluentes. “Por mais que as matrizes energéticas sejam bastante diversificadas hoje, as hidrelétricas ainda são bastante viáveis. É logico que tudo bem estudado, nos mínimos detalhes, para que os danos ambientais sejam os menores possíveis”.

O deputado disse que os impactos ambientais devem ser estudados com  prioridade, devem ser apresentadas alternativas para reduzi-los, ”mas no nosso entendimento eles não devem ser obstáculos e impedimentos para que uma hidrelétrica seja construída”, opinou.

“Pior é não ter a energia ou depender de outras fontes, mais caras e mais poluentes. Acredito que embora existam outras fontes viáveis, o Brasil ainda comporta a construção de várias hidrelétricas”, afirmou o deputado.

Jhonatan de Jesus disse que estará sempre disposto a colaborar com o que for possível para que projetos que objetivem desenvolver Roraima saiam do papel.

Por Nei Costa

Foto – Assessoria

edio lopes

Deputado Edio Lopes é favorável à construção da Hidrelétrica do Bem Querer

O Fórum de Energias Renováveis de Roraima, que promove um amplo debate sobre a viabilidade da Usina Hidrelétrica do Bem Querer, está ouvindo os posicionamentos dos representantes de Roraima no Congresso Nacional.

O deputado federal Edio Lopes emitiu sua opinião e disse que pelos estudos que tem feito, pelas reuniões que participou no Ministério das Minas e Energia e pela grande necessidade de Roraima ter uma matriz energética eficiente e segura, ele é favorável à construção da Hidrelétrica do Bem Querer.

Edio afirmou que se levar em consideração a área que será alagada e pelo potencial de geração de energia que é proposto, “eu sou amplamente favorável a construção da hidrelétrica”.

Ele explica que o perímetro de alagação já foi levantado e se isso estiver dentro do estudo técnico abalizado a UHE vai gerar aproximadamente 600 MW de energia, o que para Roraima é suficiente. “Hoje o Estado ainda não consome 300 MW. Então, nós teríamos uma hidrelétrica para suprir a necessidade de Roraima e fazer o caminho inverso para Manaus. Por isso, eu sou favorável à construção da hidrelétrica”, afirmou.

Edio Lopes ressalta que vê muito “banzeiro feito pelos ecologistas, mas sabe que o papel deles é esse. O que nós temos acompanhado no Ministério das Minas e Energia, lá com o ministro Bento Costa Lima, e a apresentação que eles têm feito para nós, e olha que não foi só uma, mas diversas, mostram todo o detalhamento. Não haverá alcance em terra indígena que seria uma questão muito controversa, porque o lago não chegaria às áreas indígenas do município do Cantá, então eu sou favorável sim, desde que o projeto seja executado conforme o detalhamento técnico que estão nos  apresentando lá em Brasilia”, definiu.

O deputado explica que vários detalhes foram levados em consideração na confecção do projeto, como a construção de uma eclusa que daria navegabilidade no trecho acima de Caracaraí, além das escadarias para peixe.

“Então não há o que se falar em problema de migração de cardumes, etc.. O projeto obedece todas essas regras e é o que há de mais moderno em engenharia. Então aí ficam lá no baixo Rio Branco dizendo que a hidrelétrica pode quebrar tudo e que vai causar uma tragédia. Essas são as  velhas conversas que a gente ouve desde séculos e que nada ajudaram o estado a se desenvolver”, concluiu.

Por Nei Costa

Foto – Assessoria deputado

lucas ferrante

Cientista do INPA aponta inviabilidade econômica e ambiental para a construção da hidrelétrica do Bem Querer

O Fórum de Energias Renováveis de Roraima está promovendo um amplo debate a respeito da construção da Hidrelétrica do Bem Querer, no rio Branco, município de Caracaraí em Roraima. Técnicos, políticos, ambientalistas, especialistas e sociedade civil, de uma forma geral, estão participando do debate e emitindo opiniões para que o Fórum possa formalizar sua posição em relação ao empreendimento.

O cientista e doutorando do Instituto Nacional de Pesquisa da Amazônia, Lucas Ferrante, é um dos atores que se posiciona contra a construção da UHE do Bem Querer. Para ele, trata-se de um caso que precisa ser olhado com toda atenção técnica possível, primeiro porque todas as hidrelétricas na Amazônia têm se demonstrado inviáveis do ponto de vista econômico e demonstram que esse tipo de geração, do ponto ambiental, é muito nocivo.

Lucas explica que o Inpa tem vários estudos que demonstram esses impactos e no que tange a Bem Querer, os malefícios podem ser ainda mais catastróficos e potencializados, embora existam falas, “inclusive de um senador”, discutindo hidrelétrica e afirmando que são meios sustentáveis de produção de energia.

“Isso é uma falácia do ponto de vista técnico e é só uma mentira que tem se propagado. Isso precisa ficar bem claro, pois todos os estudos do Instituto Nacional de Pesquisa da Amazônia demonstram que a geração de energia por hidrelétricas, além de não corresponder a estimativa de geração de energia, uma vez que há longos períodos de estiagem na região, ainda causa o dano ambiental, que é muito maior do que se estima. Isso com vários exemplos de hidrelétricas no Amazonas, Pará e Roraima”, esclarece.

Lucas Ferrante afirma que há dois grandes problemas na Hidrelétrica de Bem Querer. O primeiro é que ela vai gerar muito menos energia do que se promete e o segundo é que o dano ambiental que vai ser causado é muito maior do que se estima.

O cientista explica que um desses problemas é o acúmulo de metilmercúrio (que é comum acumular em lagos de usinas hidrelétricas) e que irá contaminar todo o abastecimento de água de Roraima, tornando basicamente o suprimento inadequado para o consumo humano. “Isso é algo muito grave e nós sabemos que hidrelétricas na Amazônia tendem a acumular metilmercúrio e este é um dos grandes problemas, que pode levar a uma grande propagação da Síndrome de Minamata no estado que é causada pela ingestão de metilmercúrio. Por conta dessa hidrelétrica, tende a aumentar concentração de metilmercúrio no lençol freático e também afetar o abastecimento da população”, destaca.

Segundo Lucas, muitos não estão dando muita atenção a esse problema, mas ele tem que ser considerado, porque o custo disso, em relação ao tratamento de água, será muito maior do que o custo de geração de energia.

“Nós temos hoje no Brasil outras formas de gerar energia de maneira muito mais limpa, que é a energia solar e a eólica. Do ponto de vista ambiental e do ponto de vista econômico a hidrelétrica do Bem Querer é inviável e ainda afeta drasticamente a população de Roraima, que não pode se deixar levar por falas políticas. Nesse momento deve se apoiar em estudos técnicos e o INPA é um dos maiores institutos e que tem vários estudos técnicos sobre a avaliação do impacto de hidrelétricas, principalmente apontando esse acúmulo de mercúrio que tende a afetar o abastecimento de água de todo o estado de Roraima”, ressalta o cientista.

Para ele, tem que ser considerados os estudos técnicos e essa obra tem que ser muito bem avaliada. “O Ministério Público tem que estar atento a uma tentativa de tornar viável essa hidrelétrica, que do ponto de vista econômico e ambiental é inviável e pode causar um dano muito maior do que os benefícios que ela tende a trazer. Nós precisamos lembrar que, normalmente, a construção de hidrelétricas na Amazônia gera uma renda muito grande para as empreiteiras e para determinados agentes que participam das obras da construção, mas para a população em geral e para a população local serão apenas problemas. Então, o retorno para população é muito baixo e apenas quem lucra com a construção de hidrelétrica na Amazônia são determinados grupos de empreiteiras. Isso precisa ser falado para que não haja um grande dispêndio de verba pública, afetando toda a população e não resolvendo o problema energético de Roraima. É importante ressaltar que a ideia de que hidroelétricas são sustentáveis e economicamente viáveis como tem apresentado o governo federal são uma falácia, os relatórios e artigos científicos sobre isso são extensos, não podemos nos deixar levar por um discurso político e eleitoreiro ser considerado como se fossem dados técnicos”.

O cientista Lucas Ferrante afirma que a sustentabilidade que vem sendo discutida no Fórum de Energias Renováveis de Roraima deve ser levada em consideração. “Deve-se defender um movimento para produção de energia limpa no Estado de Roraima e de forma sustentável. Isso deve ser considerado e o projeto da hidrelétrica vai contra as prerrogativas de desenvolvimento sustentável que o estado tem se pautado. Hidrelétrica não pode ser considerada sustentável e uma produção de energia limpa dentro do ponto de vista ambiental ao se considerar vários estudos técnicos, tanto por conta dos grandes problemas causados pela inundação, o acúmulo de metilmercúrio, como também emissões de gases do efeito estufa, afetando as mudanças climáticas que acabam tendo um ciclo negativo até sobre a precipitação daquela área onde a hidrelétrica está situada, diminuindo o regime de chuvas e causando uma diminuição ainda maior da geração de energia daquela planta”.

Lucas espera que o Ministério Público avalie a questão de maneira muito especial, pois essa hidrelétrica tem um potencial enorme de não resolver os problemas de falta de energia do Estado, como também de causar uma catástrofe ambiental em proporções gigantescas. Esse assunto, de acordo com o cientista, tem que ser tratado de maneira muito séria no Fórum de Energias Renováveis de Roraima e estar sobre a atenção do Ministério Público Federal.

Lucas Ferrante é autor de diversos estudos científicos que abordam a viabilidade econômica e ambiental de grandes empreendimentos na Amazônia nas maiores revistas cientificas do mundo, como Science e Nature.

Várias de suas pesquisas foram premiadas em congressos nacionais e internacionais. Nesta última semana, em uma entrevista a O Globo, Holden Thorp, o editor chefe da revista Science, um dos maiores periódicos científicos do mundo fez menção da excelência da pesquisa realizada por brasileiros, utilizando como exemplo uma publicação de Ferrante.

Por Nei Costa

chico rodrigues

Parlamentares da bancada federal de Roraima se posicionam em relação a UHE do Bem Querer

Parlamentares da bancada federal de Roraima vão se posicionar no debate promovido pelo Fórum de Energias Renováveis de Roraima em relação à construção da Usina Hidrelétrica do Bem Querer. Nessa primeira matéria dará sua contribuição o senador Chico Rodrigues.

De uma forma geral ele é a favor da construção da usina, pois, para ele, a obra trará desenvolvimento para o estado de Roraima e acabará com um problema antigo que é a insegurança energética.

O senador Chico Rodrigues disse que um dos maiores obstáculos ao desenvolvimento de Roraima é a oferta de energia de forma sustentável e viável economicamente. “Hoje vivemos um apagão nessa área que não só prejudica a população de Roraima, como também inviabiliza o planejamento de crescimento econômico futuro. Então a construção de usina hidrelétrica deve ser pensada como uma das soluções possíveis. Lembro que a energia vinda dos rios também é sustentável e das mais limpas”, destacou ao acrescentar que há uma série de questões, inclusive de impacto ambiental, que devem ser avaliadas por todos os atores.

Chico afirmou que a primeira e mais importante solução para o problema energético de Roraima é a ligação do Estado ao Sistema Interligado Nacional. Ele acredita que o Estado está preso a uma série de restrições criadas pelo Ministério Público Federal e a passagem dessa ligação por algumas terras indígenas.

“É importante dizer que o presidente Bolsonaro está muito empenhado em superar esta questão e dar a Roraima essa ligação. Hoje, uma população de menos de duas mil pessoas, espaçadas, está subjugando quinhentos mil Roraimenses à falta de energia limpa”, disse.

O senador se disse um grande admirador de alternativas, como a solar e a eólica. Em Brasília, ele afirma que busca estimular investimentos neste tipo de oferta de energia para o Estado. “No entanto, a energia solar ainda tem algumas limitações hoje, pois o horário de pico de consumo no nosso Estado é à noite e há dificuldade de armazenamento”.

A produção da energia pelo dendê também é uma alternativa viável que vem se desenvolvendo em Roraima. Ele explica que existem estudos de especialistas mostrando isso. “A produção de energia por biomassa também é uma alternativa”.

Para Chico Rodrigues, é importante neste momento, enquanto se trabalha para destravar os obstáculos da ligação ao Sistema Interligado, buscar um sistema de oferta de energia elétrica baseado em mais de uma fonte alternativa de oferta, em especial as soluções sustentáveis.

Para ele não é colocar energia hidrelétrica contra energia solar, mas pensar em um sistema que una as qualidades dos diversos tipos de oferta de energia elétrica para Roraima e seus cidadãos. “Isso nos deixará menos vulneráveis e abrirá portas para o crescimento e o desenvolvimento de Roraima, que é a nossa meta”.

Os impactos que podem ser causados preocupam o senador. “O político comprometido com seu povo está sempre atento a todos os custos e perdas, como também a todos os benefícios. A gente precisa ter uma visão de impactos gerais de todos os atores sociais. No caso precisa se ver quais as alternativas temos para geração alternativa de energia, quais seus impactos, custos e eficiência de oferta de energia”, destacou.

Para Chico Rodrigues todas as fontes têm algum impacto sobre o meio ambiente. “Tive a oportunidade de ler, na Comissão de Infraestrutura, vários estudos sobre o custo/benefício das diversas fontes de energia. Cada grupo de interesse tenta mostrar que a sua fonte de energia é a mais limpa, mais barata e com menor impacto ambiental. O único consenso absoluto é que a forma como geramos energia hoje em Roraima é a mais poluente, mais cara e mais ineficiente, cuja manutenção só interessa a poucos grupos que lucram com ele”, esclareceu.

O senador explica que é preciso uma análise de impactos gerais não só sobre a quantidade de energia gerada, mas sobre os benefícios e prejuízos que poderão ter sobre todos os roraimenses e também sobre a sustentabilidade e criação de valor para todos.

“O político não pode tomar decisão apenas baseado em uma planilha, nem na posição de um grupo de pressão, mas levar em consideração uma análise mais ampla e ver o impacto no tempo sobre todos, inclusive aqueles que não têm voz, ou não estão organizados para fazer valer seu ponto de vista”, afirmou.

Chico disse que tem trabalhado diuturnamente em Brasília junto ao Governo Federal para que se consiga superar os obstáculos que ainda existem para interligar Roraima ao Sistema Interligado Nacional. “Essa é a prioridade número um para solucionar o problema de oferta de energia de forma perene para Roraima. Quem se opõe a essa solução, na verdade tem interesses menores sobre o interesse de todo o povo de Roraima. Quanto à hidrelétrica do Bem Querer precisamos analisar todas as alternativas e, sendo importante para o Estado, vamos trabalhar para que possa se tornar viável”.

Bem Querer, segundo Chico Rodrigues, está dentro da perspectiva de se ter um sistema de geração no Estado, formado por diversas fontes de geração sustentável energia elétrica. “Se for levado adiante, esse projeto certamente poderá ser integrado à melhoria da possibilidade de navegação do Rio Branco, que por sua vez poderá ter uma externalidade positiva para a população, em especial a população ribeirinha, e para a economia do Estado, reduzindo custo de transporte e aumentando a eficiência logística do Estado de Roraima. Tudo isso precisa ser avaliado na hora da tomada de decisão de política energética. É preciso olhar todos os setores afetados e ter uma avaliação ampliada de custo e benefício e não apenas a questão do custo de construção e a quantidade de energia gerada”, concluiu.

Por Nei Costa

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Município de Boa Vista conta com vários equipamentos de produção de energia solar

Nos últimos anos a Prefeitura de Boa Vista intensificou a utilização de energia fotovoltaica em prédios públicos, gerando economia substancial de recursos nas contas de luz e ajudando na diminuição de emissão de CO2 que jogado na natureza.

Quem trafega pela cidade pode verificar que alguns prédios públicos, como o Teatro Municipal, o Mercado de São Francisco, a sede da Prefeitura, o terminal de ônibus Canuto Chaves e muitas paradas são abastecidas com energia solar.

Hoje, segundo a Prefeitura, são cerca de 1,7 mil placas solares instaladas em abrigos de ônibus, órgãos públicos e área indígena.

O Teatro Municipal de Boa Vista é o primeiro do Brasil abastecido com energia solar. A usina vai garantir uma economia R$ 80 mil por mês na conta de energia, ou seja, quase R$ 1 milhão por ano. Foram instalados no estacionamento do teatro 2.880 painéis fotovoltaicos com capacidade total de 1.000 kW.

A energia gerada é consumida internamente e o excedente vai para a rede elétrica, retornando à noite ou nos horários em que não há sol. O excedente será utilizado para reduzir os gastos de energia elétrica de outros prédios públicos do município.

“Essa usina vai gerar o suficiente para atender a demanda do teatro. Ela vai se pagar em cinco anos e, a garantia dela é de 25 anos. Foi uma obra feita com recursos próprios, custou R$ 4,9 milhões. É o único teatro que eu conheço que tem um estacionamento com energia solar. Sem dúvida vai fazer com que essa modernidade traga uma outra condição para a nossa cidade, tanto na questão da economia como na questão da energia limpa que é tão importante nos dias de hoje em relação a poluição”, disse a prefeita Teresa Surita.

Com o consumo de energia não poluente, deixarão de ser lançados na atmosfera mais de 93 mil kg de gás carbônico (CO2) por ano. Para se ter uma ideia, para retirar do meio ambiente essa quantidade de CO2, seriam necessárias 75 mil árvores.

Além do Teatro, o Terminal Canuto Chaves, o Mercado São Francisco (envia excedente para o Hospital da Criança), o Palácio 9 de Julho, a Secretaria de Serviços, Públicos e Meio Ambiente (abastece os abrigos comuns de ônibus), 72 abrigos de ônibus climatizados e a Comunidade Indígena Darora – já interligada à rede, são exemplos.

Outra ação da prefeita Teresa Surita é a construção de uma usina que vai gerar 5 MW e uma economia de R$ 127 milhões aos cofres públicos durante os próximos 25 anos, período de garantia dos equipamentos.

A Prefeitura vem realizando, nos últimos anos, vários investimentos nesta área e este será o sétimo equipamento para geração de energia solar, e o maior deles, com potência de 5.000 kW. Outras unidades de geração de energia solar já estão em pleno funcionamento e juntas têm gerado economia de mais de R$ 155 mil por mês.

No Mercado São Francisco o sistema de energia solar garante economia de 288,5 megawatts por ano, além de reduzir a emissão de gás carbônico.

O sistema é composto por 600 placas fotovoltaicas de 340 watts, o que garante potência máxima de 200 quilowatts.

A energia solar é captada nas placas e é jogada em inversores de energia, sendo automaticamente transferida para a rede da concessionária. De acordo com o engenheiro eletricista da Superintendência de Iluminação Pública, Paulo Roberto dos Santos, esse processo é contabilizado no relógio e a energia produzida é compensada reduzindo o valor da conta para os cofres públicos. E quando a usina produz uma quantidade a mais de energia, pode ser contabilizado como crédito e reduzir a conta de outros prédios da Prefeitura.

COP 25

E m 2019 a prefeita Teresa Surita participou do painel Mulheres Prefeitas da Amazônia, na Conferência da ONU sobre o Clima (COP 25) que ocorreu em Madri, na Espanha. Teresa foi uma das três convidadas do Instituto Alziras, ao lado das prefeitas Fernanda Hassem, de Brasiléia (AC) e Rosaria Chaves (Prof. Rosinha), de Cururupu (MA).

A prefeita participou do painel que teve o objetivo de discutir barreiras comuns e trocar soluções inovadoras para impulsionar a ação climática em nível subnacional, ressaltando a importância das mulheres para moldar um futuro mais saudável, sustentável e inclusivo.

Teresa falou sobre os desafios enfrentados por Boa Vista e pelo estado, principalmente, na questão energética. “A energia de fontes sujas. É muito complexo até compreender essa situação, pois Roraima é o único estado brasileiro que não está ligado ao Sistema Interligado Nacional (SIN)”, disse.

A prefeita falou sobre as limitações de decisão sobre o tema em função do cargo, mas que dentro da realidade do município, pensou no que poderia ser feito como alternativa para o problema e ainda melhorar a questão do clima e os impactos ao meio ambiente.

“Convivemos com apagões. Tem dias que a energia cai seis vezes, por isso decidimos trabalhar com energia solar. Boa Vista tem saído na frente em muitos aspectos e eu me orgulho em dizer que esse é um deles.”, completou.

Comunidade indígena

A comunidade indígena Darora, localizada no Baixo São Marcos, município de Boa Vista, foi a primeira região da capital a receber energia pública limpa por meio de painéis solares, baterias e equipamentos de última geração. A iniciativa é da Prefeitura de Boa Vista beneficia cerca de 50 famílias que antes conviviam com energia elétrica por meio de geradores a óleo diesel.

A energia gerada por uma Usina Fotovoltaica de 30 quilowatts (Kw) de potência, com capacidade para atender toda a demanda de iluminação pública da comunidade. As sobras de energia, armazenadas pelas baterias, são utilizadas nas duas escolas da região, incluindo a escola municipal Vovó Tereza da Silva que atende 49 alunos, e ainda abastece de forma racionada as 50 casas da comunidade.

São aproximadamente 600 metros de rede elétrica de baixa tensão, construída com postes de concreto e 20 luminárias LED (modernas e econômicas) de 40 watts para fornecer iluminação pública. Antigamente, a energia elétrica no local era fornecida por gerador movido a diesel, que funcionava somente algumas horas durante o dia e à noite e tinha custos com manutenção. Cerca de 1.500 litros de diesel por mês eram utilizados nos geradores.

Por Nei Costa

Fonte – Semuc

Fotos – Semuc

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Movimento Puraké acredita que o projeto da Usina Hidrelétrica do Bem Querer trará prejuízos para Roraima

Bruno de Campos, um dos coordenadores do Movimento Puraké e integrante do Fórum, conversou com a gente sobre o trabalho que vem sendo realizado pelo grupo para falar dos impactos que o projeto da Usina Hidrelétrica do Bem Querer pode gerar para Roraima.  Ouça a entrevista completa no nosso site.

Ouça a entrevista:

FOTO POS PURAKÉ

Construção da UHE Bem Querer gera debate entre internautas nas redes sociais

Desde que o Fórum de Energias Renováveis de Roraima começou a publicar matérias chamando a sociedade para participar do debate sobre a viabilidade da construção da Usina Hidrelétrica do Bem Querer, internautas estão emitindo suas opiniões e participando de discussões a respeito do assunto nas redes sociais mantidas pelo Fórum.

Em 17 de junho o Portal do Fórum começou a publicar matérias mostrando os prós e os contras, aspectos técnicos e os estudos sobre a viabilidade da instalação de uma usina hidrelétrica na Bacia do Rio Branco.

De lá para cá foram produzidas matérias que mostram o início dos estudos, em 2004, sob responsabilidade da Empresa de Pesquisa Energética (EPE). O tema logo gerou polêmica, por uma série de questões, e o Fórum de Energias Renováveis de Roraima tenta esclarecer e tirar as dúvidas da sociedade por meio de publicações.

Nesse período de tempo foram publicadas 12 matérias que mostram o que foi feito desde então e também questões técnicas e ambientais. Especialistas, estudiosos e representantes de entidades de defesa do meio ambiente emitiram suas opiniões, algumas contrárias e outras favoráveis à construção.

O Fórum também publicou os estudos até então feitos pela Empresa de Pesquisa Energética (EPE) e o posicionamento de instituições representativas como a Federação das Indústrias de Roraima (Fier) e o trabalho feito pelo consórcio formado pelas empresas Walm Engenharia e Tecnologia Ambiental e Biota Projetos e Consultoria Ambiental, contratado pela EPE para fazer os estudos de viabilidade técnica, econômica e ambiental da Usina Hidrelétrica do Bem Querer.

O chamado do Fórum para a participação da sociedade no debate está surtindo efeitos e centenas de pessoas estão emitindo suas opiniões nas páginas das redes sociais, onde também são publicadas as matérias referentes ao processo como um todo.

Os internautas cometam e questionam a viabilidade do processo de instalação e muitos mostram que há alternativas para que o grave problema energético que Roraima enfrenta seja solucionado.

Ise Goreth, por exemplo, parabenizou o representante do Movimento Puraké, Bruno Campos. “Muito boa sua fala e sua defesa a favor do nosso rio Branco”.

Já Roberto Rodrigues afirmou que quem defende o projeto para a construção da UHE Bem Querer, quer repetir os mesmos erros da Usina de Balbina. “Pior, querem mais uma obra enorme para poder roubar dinheiro público”, desabafa.

Jair Costa brinca de diz que Boa vista vai virar Veneza e Terezinha Meireles se mostra contra a construção. Davidson Souza vai além e diz que há muita reclamação, muito embargo e muita justificativa para não serem feitas obras que beneficiem realmente o povo que sofre em Roraima. “Apresentem projetos, pelo amor de God, e não apenas mimimi pra que nada seja feito” e sugere: “energia eólica nesses lavrados, por exemplo”.

Elon Elon (identificação no Facebook) pergunta: “Pra quê criar uma hidrelétrica lá no Bem Querer? Só pra alimentar a estação energética de Caracaraí? Porque com aquela ‘correnteza toda’ não dá pra gerar nem energia para um carrinho de controle remoto! Será mais um elefante branco nesse país”.

O internauta Guilherme Magalhaes sugere que uma usina seja construída no rio Cotingo. “Muito melhor fazer no Rio Cotingo, como queriam fazer antes”. Já Maria do Carmo Teixeira Norato é mais crítica e afirma que é “só roubalheira. Falam em desenvolvimento! Que tipo de desenvolvimento? Mais uma nas costas dos contribuintes!”.

Luiz Card também é a favor da construção de uma usina no Rio Cotingo. “Façam no Cotingo. Menos custo ambiental, menos dinheiro na obra, uma vez que a natureza já deu as barreiras dos dois lados do rio”.

A senhora Ernandina Carvalho diz que não precisa ser estudioso da área para saber que essa construção irá alagar parte da BR e bairros de Boa Vista. “Lembro muito bem e fui, in loco, verificar: grande parte do bairro Paraviana, à época, foi para o fundo na alagação de 2011. Sem citar outras áreas. 90% de Caracaraí foi pro fundo. A BR transbordou. Nos últimos anos o Rio Branco tem subido muito no forte inverno. Fora essa inundação enorme de 2011, lembro-me de uma igual em 1976, quando eu era criança. Com a ação do homem na natureza tudo tem se transformado: ciclos, mudanças climáticas, extinções, dentre outras. Não sou contra a construção de uma hidrelétrica. Precisamos sair desse caos que é essa instabilidade no atendimento de energia elétrica associado a isso o valor exorbitante que nos cobram. Porém, quem está planejando a execução desse feito precisa avaliar os prós e os contras em época de inverno. Então pergunto: o que farão com a represa quando o rio subir e alagar as áreas citadas acima (fora as que não citei)? Abrirão as compotas e farão de Caracaraí uma Atlanta da América Latina (sei que é ficção porém na nossa Caracaraí será real. Iremos para baixo d’água)?”.

Edson Marques cobra o término da obra do linhão de Tucuruí. “Aí sim e mais viável”, opina.

Nizael Costa diz que a construção do Bem Querer é igual a Balbina no Amazonas. “Muito prejuízo ao meio ambiente e pouca geração de energia elétrica, com um agravante que a água da represa vai cobrir uma parte da BR”.

Para Francisco das Chagas Teles dos Santos “todos os movimentos e ONGs suspeitos são ágeis em serem contra qualquer projeto que beneficie o povo, mas o pior é que não apresentam alternativas. É o fim da picada e o pior é que a grande maioria é financiada com dinheiro público. Eu, como gestor público cortava a grana deles”.

O músico George Farias foi enfático: “Sou contra!”.

Favoráveis

Há os que concordam com a construção da Usina. Everaldo Gianluppi, por exemplo, acredita que a obra será um marco no desenvolvimento de Roraima. “Mas tem que ficar atento com a corja de políticos de cabresto que não quer o desenvolvimento, já usando seus capachos para não deixar a construção”.

Thiago Thomazi afirma que a Usina seria um marco de desenvolvimento para o Estado.

Natanael Silva pergunta: “E estão esperando o quê? Até quando vamos ficar com uma energia de péssima qualidade e pagando um absurdo nas contas, tirando metade do salário só para pagar as contas de energia?”.

Ceica Dos Santos garante que a UHE do Bem Querer seria ótima para Roraima. “Um grande desenvolvimento”. Fausto Pantoja diz que “Roraima pede socorro com tantas contas energia abusivas”.

Por Nei Costa

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Investir em eficiência energética pode ajudar empresas a superar a crise

Com o relaxamento das medidas de distanciamento social e a reabertura do comércio em algumas cidades do país, a confiança na indústria deve apresentar forte recuperação nos próximos meses. O Índice de Confiança da Indústria (ICI) da Fundação Getúlio Vargas (FGV) aumentou 16,2 pontos em junho, alcançando 77,6 pontos, a maior variação positiva da série histórica. A alta de 19,4 pontos nos últimos dois meses, contudo, recupera apenas metade dos 39,3 pontos perdidos entre março e abril. Dezenove segmentos industriais pesquisados tiveram aumento da confiança. Este resultado é atribuído à forte melhora da percepção dos empresários em relação a situação atual e, principalmente, para os próximos três meses. O Índice de Expectativas (IE) subiu 21,3 pontos, para 76,2 pontos. Já o Índice de Situação Atual (ISA) cresceu 10,6 pontos, para 79,2 pontos. A diferença entre ISA e IE, que chegou a ser de 17,8 pontos em maio, agora é de apenas 3,0 pontos.

Mesmo com a retomada gradativa da economia, os empresários sofrem para  se recuperar do prejuízo causado pela pandemia da Covid- 19. Por isso é preciso pensar em estratégias para se recolocar num mercado que ainda inspira cuidados. A redução dos gastos tem sido uma das primeiras medidas adotadas para reestruturar as empresas nessa volta, e é preciso buscar alternativas. A economia no setor elétrico pode ser uma importante aposta, além de trazer inúmeros benefícios com atitudes simples, como o investimento na eficiência energética.

A eficiência energética visa o uso racional de energia, com a melhor utilização dos equipamentos, sem desperdício. Por isso uma das primeiras ações é a modernização das instalações elétricas que pode ajudar a reduzir o valor da conta de luz. A associação Brasileira da Empresas de Serviços de Conservação de Energia (ABESCO) dá um exemplo de eficiência energética na iluminação dos ambientes. Uma lâmpada tipo LED de 7W tem o mesmo nível de iluminamento que uma lâmpada incandescente de 60 W. Ou seja, economia de 53 Watts por hora ou quase 90% de economia. De acordo com a Abesco a vida útil do LED é 50 vezes maior e o calor que é transferido para o ambiente é menor portanto locais climatizados gastarão menos energia para resfriar o ambiente. A Associação destaca que a atualização dos equipamentos pode gerar uma economia de até 50% no valor final.

Ricardo Lima, consultor do Fórum de Energias Renováveis de Roraima, destaca as vantagens de investir em eficiência energética na indústria. Entre elas está:

  • a redução de custos.
  • aumento de competitividade.
  • modernização, maior eficiência no processo produtivo.
  • maior controle e conhecimento do processo, e das variáveis de produção.
  • tempo de retorno do investimento sempre atrativo, em geral inferior a um ano.

Para as empresas que querem começar a investir em eficiência a primeira coisa a fazer é um diagnóstico energético. “Começa pela análise das faturas de energia elétrica e em seguida das instalações e equipamentos, passando por uma análise do processo produtivo. Na análise dos equipamentos se verifica o dimensionamento de motores, bombas, compressores, e iluminação”, orienta Ricardo.

De acordo com a Confederação Nacional da Indústria (CNI), o setor é responsável por cerca de 41% do consumo de energia elétrica do país, com 573 mil unidades consumidoras industriais. A CNI diz que motores elétricos, sistemas de refrigeração, de ar comprimido e de iluminação representam mais de 50% dos custos em energia elétrica na indústria, por isso a implantação de programas, projetos e atividades de conservação e uso eficiente de energia pelos diversos segmentos industriais, deve ser permanentemente estimulada, considerando-se os desafios que o setor energético vem enfrentando para atender a demanda em todas as regiões do país. Em parceria com as Federações de Indústrias a CNI divulgou uma série de sugestões práticas para o dia a dia das indústrias, com o objetivo de promover e difundir o uso eficiente de energia, sem comprometer a segurança, a qualidade do produto e a capacidade de produção.

A cartilha com dicas paras as empresas que pretendem investir em eficiência energética pode ser acessada nesse link: https://bucket-gw-cni-static-cms-si.s3.amazonaws.com/media/uploads/arquivos/cartilha_cni_corrente_FINAL-small1.pdf

 

Foto: Ipog

Por Thamy Dinelli

 

Ciro Campos. Foto: J.Pavani

Construção da UHE Bem Querer pode gerar desastre sem precedentes, acredita o ISA

O Instituto Socioambiental (ISA) se mostrou totalmente contra a construção da Usina Hidrelétrica do Bem Querer, no rio Branco, município de Caracaraí. O analista do ISA em Roraima, Ciro Campos, disse que se a usina for construída, os impactos sociais e ambientais seriam realmente grandes e sem precedentes para o estado de Roraima. “Portanto é preocupante que até o momento estes impactos não tenham sido comunicados à sociedade local em toda a sua gravidade – as informações chegam atenuadas, como se não fosse tão sério”, disse.

Ciro explica que Bem Querer teria um lago maior que o da usina de Belo Monte, mesmo gerando 10 vezes menos. Ele considera que a obra é muito grande e de baixa eficiência, que pode mudar para sempre a natureza e a vida das pessoas em Roraima.

Segundo Ciro Campos, a construção de uma hidrelétrica desse porte, que atualmente é a maior hidrelétrica em planejamento na Amazônia, é uma decisão que não pode ficar apenas com o setor elétrico, que considera o valor da conta de energia como o principal componente da análise. “O povo também se importa, e muito, com o valor da conta de energia, mas se fosse consultado se aceita fazer a hidrelétrica em troca de um desconto de R$ 3,50 na conta de luz, desconfio que o povo escolheria ficar com o rio Branco”, destacou.

Para Ciro, infelizmente o valor é apenas um exemplo, porque não foi realizado um estudo sistemático para informar se haveria aumento na conta de energia, caso outra solução fosse adotada no lugar de Bem Querer.

“Da mesma forma, não foi realizado um estudo específico para estimar os custos em áreas como segurança, saúde, educação, habitação, saneamento e outros que vão atingir em cheio o poder público, estadual e municipal, e toda a sociedade, como atingiram Altamira-PA e cidades próximas que sofrem o impacto de Belo Monte”, esclareceu.

Na opinião de Ciro, é urgente que seja realizado um estudo, integrado e independente, envolvendo os diversos setores da sociedade, para analisar a viabilidade técnica e econômica das alternativas à construção de Bem Querer, bem como o impacto esperado nos indicadores de segurança, saúde, educação, habitação e outros, além da consequência dos impactos ambientais sobre a natureza e a vida das pessoas, nas cidades, no interior e nas terras indígenas.

Segundo Campos, já está sendo realizado um estudo amplo e sistemático para a elaboração do EIA-RIMA, o Estudo/Relatório de Impacto Ambiental, obrigatório para o licenciamento da obra. Entretanto, continua, estes estudos e sua posterior análise pelo setor elétrico costumam minimizar os problemas, resultando em prejuízos bem maiores que os esperados. “Entendemos que o Fórum de Energias Renováveis de Roraima é o lugar ideal para fomentar a realização deste estudo independente, por ser um espaço que favorece o diálogo entre os vários setores e estamos a disposição para colaborar”.

Ciro lembra que o Brasil não está mais nos anos 80, quando as opções tecnológicas eram muito mais limitadas, e o projeto de Bem Querer foi pensado pela primeira vez. Atualmente novas fontes de energia já se tornaram viáveis e outras estão avançando rapidamente, e Roraima é um estado com grande potencial para estas fontes. “Portanto, acreditamos que a solução para Roraima seja a integração de diversas fontes de energia, em um mix que envolva o sol, vento, biomassa, resíduos e também armazenamento, em um processo de transição que reduza gradativamente a necessidade da queima de combustíveis fósseis como o diesel e o gás natural”.

Para o analista do ISA, infelizmente a análise comparativa realizada pelo governo federal anos atrás apresenta hoje um déficit de atualização em relação às outras tecnologias – que avançaram muito nos últimos dez anos – porque foram análises realizadas antes do processo de licenciamento. Ou seja, a decisão de avançar com os estudos de Bem Querer, em detrimento de outras fontes de energia, foi tomada com base em informações que, se fossem atualizadas à luz dos conhecimentos de hoje, poderiam indicar outra solução como mais viável, tecnicamente e economicamente.

A adoção de uma solução diversificada teria a vantagem adicional de permitir a participação do empresariado local na implantação dos empreendimentos de energia, gerando mais empregos e divisas aqui no estado do que a construção de uma grande usina, que normalmente favorece as grandes empresas de outros estados do país, afirma Campos.

O ISA faz parte de algumas redes de instituições, como o Grupo de Trabalho em Infraestrutura da Sociedade Civil e a Frente Por Uma Nova Política Energética, que nos últimos vem conversando com o Ministério de Minas e Energia (MME) e com a Empresa de Pesquisa Energética (EPE) sobre o planejamento energético nacional. Em diversas oportunidades o ISA manifestou a sua preocupação com a expansão hidrelétrica no país, sobretudo na Amazônia e no Pantanal, avaliando que os seus custos e impactos já são melhor conhecidos e, portanto, desfavoráveis, apontando para a busca imediata de outras formas de expansão da geração elétrica no país.

Ciro Campos afirma que embora o impacto ambiental seja enorme, o impacto social é igualmente nefasto e já foi muito bem documentado. O que aconteceu em Altamira no Pará, com os indicadores de saúde, educação e segurança, deveria ser amplamente divulgado para o povo de Roraima, sobretudo para a população de Boa Vista e Caracaraí. “O aumento dos casos de violência, sobretudo contra mulheres, crianças e adolescentes, a perda de qualidade na educação, a degeneração dos indicadores de saúde, o aumento do custo de vida e o aumento do desemprego são apenas alguns dos problemas que as cidades no entorno de Belo Monte tiveram que enfrentar, sem receber a tempo os meios para fazê-lo. Já solicitamos a EPE, em algumas reuniões públicas, que faça a divulgação destas informações para o povo de Roraima, até agora sem sucesso”, lamentou Campos.

Ainda de acordo com o analista do ISA, o impacto para o meio ambiente será maior que o observado em outras hidrelétricas, porque o rio Branco fica em uma planície, causando enorme alagação, comparável ou até maior que a causada pela usina de Belo Monte.

 

Segundo ele, os defensores de Bem Querer tentam minimizar o impacto do alagamento, dizendo que parte dele, cerca de 20%, se dará sobre o leito do próprio rio, mas isso é ainda pior. Significa que 130 km do rio Branco, uma extensão enorme, deixará de ser um rio para se tornar um lago. “E quando se fala de impacto ambiental, atingir um rio é pior do que atingir qualquer outra região, porque é por ele a vida se movimenta. Fazendo uma analogia com o corpo humano seria como comparar a gravidade de um corte na pele com a gravidade de um corte em uma artéria. Além disso, pesquisas indicam também que as emissões de gás Metano pelo reservatório de Bem Querer seriam tão elevadas nos primeiros 20 anos de operação, que seriam praticamente equivalentes à redução das emissões de CO2 pelas usinas térmicas. Não se pode, portanto, de forma alguma, minimizar o enorme alagamento de Bem Querer, que também alcança áreas rurais produtivas no interior e ao redor das cidades. O impacto para a pesca será forte e irreversível, principalmente acima da barragem, mas também rio abaixo, porque a barragem vai segurar os sedimentos e nutrientes que são necessários para que a vida continue a se reproduzir no Baixo rio Branco. Espera-se também uma grande proliferação de mosquitos nas margens do rio, então convertido em lago, afetando diretamente a população de Boa Vista e Caracaraí. Não é possível antecipar a extensão de todos os impactos para a natureza, mas é razoável afirmar que serão ainda mais graves que aqueles observados em outras hidrelétricas da Amazônia, por se tratar de uma região extremamente plana”.

Para Ciro Campos é importante sempre lembrar que a Empresa de Pesquisa Energética, durante a reunião pública realizada em Boa Vista, no Palácio da Cultura, em julho de 2018, explicou que a construção de Bem Querer não tem como objetivo principal garantir o atendimento do povo de Roraima. O objetivo seria conferir mais segurança para o Sistema Interligado Nacional, permitindo o melhor funcionamento do Linhão de Tucuruí, e oferecendo energia (talvez) um pouco mais barata para o povo brasileiro, porque o rio Branco fica cheio quando outros estão vazios. “Portanto é importante aqui citar as mesmas palavras usadas pelo representante do governo nesta reunião: ‘O Brasil já fez muito por Roraima. Agora é a hora de Roraima fazer pelo Brasil’. Leia-se sacrificar o nosso único grande rio para reduzir em alguns centavos a conta de luz no resto do país. Será que o povo de Roraima está disposto a fazer esse sacrifício?”, concluiu ao deixar uma questão a ser respondida.

Por Nei Costa